(2001)
UMA CINTA COMPRESSORA
“Réquiem Para um Sonho” é o segundo longa do Darren Aronofsky.
Baseado no livro de mesmo nome de Hubert Selby Jr., possui como premissa básica o
vício e seus desdobramentos. Inicialmente são apresentados de maneira
descontraída os personagens Sara Goldfarb, Harry Goldfarb, Marion Silver e
Tairone Love.
Harry (Jared Leto) é
amigo de Tairone (Marlon Wayans) e em conjunto com sua namorada Marion
(Jennifer Conelly) decidem entrar no mundo do tráfico para bancar os seus
sonhos. O filme não se estende no desenvolvimento desses sonhos como meta, mas
foca nos caminhos utilizados para alcançá-los. O filme é episódico dividido em
três estações do ano, respectivamente, verão, outono e inverno. A escolha dessas
estações não são por acaso, pois funcionam como uma boa metáfora para pontuar o
ritmo dos acontecimentos.
“Requiem para um Sonho” não é uma obra sobre vício em
drogas, especificamente, pois mais do que a toxicomania apresenta ao espectador
as diferentes manifestações da compulsão; seja por comida, televisão, sexo e
até mesmo uma ideia. A obsessão das personagens é tratada como uma possível
solução para os seus problemas, dramas pessoais e fuga da realidade.
Uma marca do filme é o estilo da edição que o diretor
denominou Hip Hop montage. Essa consiste em cortes rápidos (nesse foram
utilizados mais de 2000) de cenas em alta velocidade combinando sons de maneira
quase musicada, o que torna a experiência muito sinestésica e dialoga com a
sensação de prazer imediato proporcionada pelo consumo de heroína.
É preciso destacar a trilha sonora do Clint Mansell
que ajuda a criar uma atmosfera de suspense e melancolia, lembrada pela faixa
“Lux Aeterna”, musica tema do filme.
O elenco está à altura já que o filme, apesar de
difícil de digerir, não deixa de ser uma proposta artística e reflexiva sobre
um recorte social. Jared Leto
e Marlon Wayans transmitem a empolgação acerca de uma nova ideia que promete
prosperidade, assim como o senso de constrangimento e melancolia que algumas
cenas exigem. Jennifer Conelly interpreta uma moça apaixonada e intensa com uma
sensualidade jovial e também não deixa a desejar quando o roteiro lhe direciona
para situações de desespero, intimidação e repulsa. Ellen
Burstyn no papel de Sara Goldfarb está sem precedentes, sendo convincente ao expressar
suas emoções, desespero, fanatismo e desorientação.
ANÁLISE DOS ELEMENTOS (COM SPOILERS)
Tendo
em vista a composição simbólica do filme, vale a pena destrinchar alguns
elementos que estão presentes no longa e são responsáveis para a
transmissão de muitas mensagens.
AS ESTAÇÕES
Primeiramente o fato das estações do ano serem utilizadas de forma episódica não é uma escolha aleatória, mas sintoniza com os acontecimentos exibidos. Sendo o verão a primeira delas, a ascensão dos personagens na busca dos seus objetivos é depressa, a edição com cortes apressados e trilha sonora intensa marcam a fase onde euforia e entorpecimento tomavam de conta dos personagens.
Primeiramente o fato das estações do ano serem utilizadas de forma episódica não é uma escolha aleatória, mas sintoniza com os acontecimentos exibidos. Sendo o verão a primeira delas, a ascensão dos personagens na busca dos seus objetivos é depressa, a edição com cortes apressados e trilha sonora intensa marcam a fase onde euforia e entorpecimento tomavam de conta dos personagens.
As
próximas estações são exatamente a queda do ritmo e das circunstâncias. Como o
próprio nome em inglês indica, no outono (fall) tudo começa a desmoronar, e no
inverno, que compõe o terceiro ato, é retratado o desconforto e desamparo que
um frio extremo pode provocar. Propositalmente a primavera nunca chega, não
passando de um sonho.
OS MÉDICOS
Não se pode deixar de reparar a maneira como a
sociedade médica foi representada no filme, caracterizada pela impessoalidade e
automatismo da profissão.
Quando a
personagem Sara precisa fazer uma consulta, a câmera quase nunca foca no rosto
do médico. No ambiente hospitalar, essa mesma personagem é manuseada de um lado
para o outro, decisões acerca do que será feito com ela são tomadas sem o
conhecimento dela nos deixando igualmente perdidos. O diretor “abusa” de planos
fechados para mostrar algum material hospitalar sendo utilizado de forma
invasiva e até ameaçadora, enquanto a equipe médica parece estar alheia a todas
essas sensações.
O TÍTULO
A palavra
“réquiem” vem do latim “requiem” que significa descanso. Era a palavra
utilizada para iniciar o ritual nas antigas missas fúnebres típicas da Igreja
Católica. “Requiem aeternam dona eis, Domine”, que significa “Senhor,
concede-lhes o eterno descanso”.
Dessa
forma, o título avisa o que está por vir. De maneira figurada, a mensagem de um
sonho morto é adequada, já que o que presenciamos é um retrato da degradação
humana que de forma artística e visceral que exibe personagens perdidos e
sonhadores em situações extremas.
Ainda bem que tenho a honra de ser o primeiro a comentar nesse post sobre esse filme em específico, por ser um dos meus prediletos, especialmente pelo título que traduz muito bem o filme. Gostei muito da sua forma simples e direta de resumir bem essa obra-prima, não só com o significado do filme mas tambem com os elementos técnicos. Aposto que isso incentiva pessoas que se interessam pelo tema.
ResponderExcluirEstá de parabens pela iniciativa!