sábado, 1 de fevereiro de 2020

AMANTES ETERNOS / ONLY LOVERS LEFT ALIVE




(2014)

ELEGANTE

Nesta obra de Jim Jarmusch que retrata vampiros contemporâneos, acompanhamos a vida do casal Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton). O filme inicia com ambos vivendo em diferentes países – ela morando em Tânger e ele em Detroid – e devido ao estado melancólico que Adam se encontra, Eve decide visitá-lo. Assim, é estabelecida a premissa básica do filme.
Em termos de roteiro, este longa foge da narrativa convencional. Não existe uma história com altos e baixos a ser contada, é praticamente o espectador acompanhando a vida cotidiana dos personagens e como eles possuem um olhar diferenciado para o mundo, já que são seres antigos, que estiveram presentes em distintos momentos da história da humanidade.
Naturalmente, por se tratarem de vampiros, encontram-se características básicas dos mesmos, são seres noturnos que se alimentam de sangue. A madeira também continua como um instrumento letal, mas a escolha do diretor para explorar esses detalhes se da de maneira sutil e original. O sangue, por exemplo, não é apenas um alimento, mas é apresentado como uma espécie de droga que é tomada de forma ritualística, acompanhando o senso estético dos personagens. Dessa forma o uso do sangue que é tão típico para retratar essas criaturas toma um aspecto metafórico, como uma representação de obsessão, prazer extremo e sinestesia.
Vale ressaltar como a direção ostenta da fotografia para expressar o efeito entorpecente da substância. Muito uso da câmera em planos fechados em sintonia com o movimento de cabeça dos personagens, que, em conjunto com a trilha sonora constante retratam muito bem o ar de alteração de consciência.
Ainda a respeito da fotografia, é notável o contraste da pele muito clara dos personagens, com o cenário escurecido e noturno. A câmera muitas vezes se arrasta para um close lento ou acompanha o passo do personagem em um ritmo desacelerado e elegantemente alinhado com a trilha.
A respeito dos personagens, o diretor se ateve a explorar como seria a mente desses seres que viveram e viram de tudo ao longo dos séculos. Os vampiros são nesse caso, grandes eruditos, conhecedores de idiomas, músicas, culturas, obras literárias e teorias científicas. O diálogo entre Adam e Eve é culto e refinado, sem perder o tom cotidiano e detalhista que o filme propõe.
A trilha sonora premiada no Festival de Cannes, composta de faixas de soul, rock e músicas instrumentais minimalistas que servem tanto para pontuar situações, como para o deleite dos personagens, pois, eles se mostram admiradores fundamentados nesse ramo.
A respeito das atuações, todo o elenco dá um show. Tom Hiddleston convence muito bem como um músico e intelectual frustrado, e Tilda Swinton interpreta perfeitamente uma criatura misteriosa e observadora, se interessa pelas pequenas belezas do cotidiano.
A personagem da Tilda é atualizada, otimista e cuidadosa, seu equilíbrio contracena muito bem com o Adam, que expressa um ar mais mórbido e pessimista, apesar de igualmente intelectual e contemplativo. A química entre os dois é muito forte e interessante de acompanhar.
Também compõe o elenco principal, Mia WasikowskaJohn Hurt. O personagem de John encorpa a característica do sábio, como uma espécie de ancião dos vampiros, enquanto que Mia interpreta a irmã de Eva. Ela atende muito bem ao tom dissimulado e jovial da personagem, sua presença trás energia e conflito para a narrativa.
“Amantes Eternos” é belo, elegante, excêntrico e o que se pode chamar de um “gosto adquirido”. O ideal de vampiro foge do suspense enérgico para dar lugar ao contemplativo e minimalista.

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