sábado, 1 de fevereiro de 2020

PATERSON



(2017)

UM FILME SUFICIENTE


Nessa bela obra dirigida e roteirizada pelo Jim Jarmusch, o tom aguçado para as questões cotidianas permanece. “Paterson” conta a história de um motorista de ônibus que nas horas vagas escreve poemas sobre elementos do seu dia, como sua caixa de fósforos ou o trecho de uma música antiga.
O protagonista é um sujeito observador e discreto. A sua naturalidade e introspecção foi muito bem representada por Adam Driver, que sempre expressa uma satisfação silenciosa com o rumo do seu dia ainda que teoricamente banais.
O filme é propositalmente cíclico. Paterson acorda todo dia no mesmo horário, vai trabalhar, passeia com o cachorro e bebe no mesmo bar antes de voltar para casa. Não existem altos e baixos nessa narrativa, é a história de um homem que aprecia os momentos do seu dia com conformação e argúcia.
Esse senso de satisfação com a vida é ressaltado pelo Sr. Donny, personagem caricato presente na trama para reclamar do que acontece e contrastar com o conformismo de Paterson.
A obra mantém o tom com fluidez, acompanhado de uma fotografia melancólica, que muitas vezes retrata a visão do protagonista, e repete enquadramentos como forma de reforçar o tom cotidiano.
A trilha sonora minimalista marca muito bem o andamento da história. Um detalhe que chama atenção é a presença de uma mesma música nos momentos em que Paterson escreve seus poemas, justamente pela forma como ela antecipa a atitude do personagem, como se pudéssemos acompanhar a chegada de uma nova inspiração poética.
O diretor apresenta ainda alguns padrões intrigantes de repetição, como o design em preto e branco utilizados por Laura – mulher de Paterson – nas cortinas, roupas, quadros e a aparição de irmãos gêmeos ao longo do filme.
Os momentos do protagonista com a esposa expressam a sensação de afeto. Eles conversam sobre sonhos, acontecimentos, gostos ou até mesmo observações atípicas, como o cheiro um do outro. Tudo se dá em tom natural e sem necessariamente chegar algum lugar com esses diálogos. Dócil e sonhadora, Laura, brilhantemente interpretada por Golshifteh Farahani, também sustenta a atmosfera de afeto e interesse entre eles.
É interessante como Jarmusch cria personagens enamorados sem apelar para tramas antagônicas onde o casal precisa passar por um momento de conflito para se reconciliar. Aqui é notável um forte senso de parceria e interesse pela vida do outro.
Paterson, por fim, apresenta-se como uma obra minimalista, afetuosa, de ritmo constante, porém, extremamente fluido, que lança um olhar sensível aos acontecimentos do cotidiano.

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