(2013)
SOLITÁRIO
“Gravidade” é uma imersão tanto visual quanto sentimental no
espaço. O longa conta a história da Dra. Ray Stone (Sandra Bullock), uma
cientista em sua primeira viagem espacial onde, ao lado do colega Matt Kowalski
(George Clooney), precisa consertar o telescópio Hubble. A situação sai do
controle obrigando-os a enfrentar adversidades em um ambiente incompatível com
a sobrevivência humana.
O filme possui uma
atmosfera apreensiva já que o ambiente é a própria ameaça. Ao mesmo tempo em
que o espaço é o elemento encantador que reflete a grandeza da natureza, também
se mostra como um lugar misterioso, imponente e incontrolável.
O diretor, Afonso
Cuarón, foi perspicaz em trabalhar uma trama que vai além da ameaça física. O
filme explora o sentimento de solidão e inferioridade diante da natureza do
espaço, que manifesta leis físicas as quais não estamos habituados e vamos
desvendado conforme as vivências da personagem.
A presença da inércia, o silencio e a perda de referência, do que está
em cima ou embaixo, tornam-se recursos de suspense que associados a trilha
sonora minimalista capturam o espectador com cenas intensas.
Sandra Bullock no
papel da protagonista transmite bem o desespero controlado de estar em uma
situação onde ela não se sente tão preparada para enfrentar, tanto física como
emocionalmente.
Vale ressaltar como os
movimentos de câmera lenta e ritmada auxiliam a criar a sensação da falta de
gravidade. O diretor também se utiliza de diversos enquadramentos, pondo a
câmera em primeira pessoa e ressaltando a respiração da personagem, depois
abrindo para um plano geral onde pega todo cenário, tudo de maneira fluida e
variando de acordo com o ritmo da trama.
Gravidade é uma obra
esteticamente impecável com uma personagem forte que vive uma “experiência
inesquecível”.
ANÁLISE DE ANALOGIA (COM SPOILERS)
Nas entrelinhas da
narrativa declarada, “Gravidade” sugere uma bela analogia ao renascimento, ao
gesto de recomeçar. Não é a toa que a imagem de Ray na nave lembra um bebê no
ventre. Aquele é o momento em que ela se viu temporariamente livre do perigo,
onde pôde finalmente relaxar e se sentir guardada.
Finalmente chega a cena
onde o conceito de Freud sobre “Pulsão de morte” se faz presente. Ele a define como
uma força que tende a volta para o estado inanimado, é o desejo inconsciente de
apagar, adormecer, deixar de existir.
Essas sensações são
representadas no terceiro ato do filme, onde Ray se vê completamente isolada de
comunicação e literalmente apaga os sistemas motores que a mantém viva, já que até
então tudo se resumia a sobreviver.
“Eu saio do trabalho
e apenas dirijo, é isso que eu tenho feito”, é assim que Ray descreve sua vida.
Somente após a aparição enérgica do Matt, ela decide despertar, acender as
luzes, aumentar o nível de oxigênio, movimentar-se para além do medo e
despedir-se como pode da filha que já se foi.
É uma bela cena onde
a personagem ressignifica a sua perda e decide agir. Tamanho é o seu ímpeto de
vida que nem mesmo a morte importa, melhor é atravessar, tentar até a ultima
possibilidade, para despencar incandescente em pleno oceano e romper a cápsula
tal qual um segundo nascimento. Um nascimento para si própria.
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