segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Wanderlust

 


Os romances atuais envolvendo novas configurações de relacionamento não são mais uma novidade. O diferencial de Wanderlust é trazer essa proposta para um casal de meia idade em um contexto familiar convincente.

            Ao perceberem sua vida sexual minguando, Joy (Toni Collete) e Alan (Steven Mackintoshe) decidem abrir o casamento como uma tentativa de salvá-lo. Apesar da proposta se instalar de maneira conflituosa, a novidade e o mistério enfeita a dinâmica conjugal em uma crescente de cumplicidade e interesse mútuo.

            Wanderlust não se limita a explorar vastas experiências de relacionamentos, mas a fazer um estudo do efeito que cada envolvimento gera, tanto para o casal central, como para “terceiros”. Da mesma forma, a série acerta ao estabelecer o seguinte paradoxo na dinâmica dos protagonistas: encontrar-se com diferentes pessoas e se reencontrar enquanto casal. Duas situações aparentemente opostas onde uma contribui para o acontecimento da outra.

Em apenas seis episódios, histórias que compõem a vida de Joy e Alan são contadas com de forma direta e profunda. Cada personagem tem o seu momento e temas aparentemente divergentes, como luto e auto aceitação, se conectam à trama central.

A atuação da Toni Collete (Joy) é a força motriz da série, e com seu carisma entrega uma personagem que passeia entre o melancólico e o despojado com uma interpretação muito humana.

Wanderlust é rica em forma e conteúdo, pois conta uma boa história através de uma bela fotografia embalada por diferentes gêneros musicais na trilha, que vão desde R&B até rock indie, preenchendo os “vazios” contemplativos.

Fleabag

O FESTIVAL DAS MÁSCARAS

A vida comum de uma mulher que tenta fugir das próprias dores com muito humor e muito sexo pode ser interessante de acompanhar quando escrita pela  Phoebe Waller-Bridge (atriz principal), e dirigida por Harry Bradbeer. “Fleabag” retrata as vivências cotidianas de uma mulher sem nome, e apimenta a trama com personagens excêntricos e cenas que vão do cômico ao desconfortável.

            Ainda que pessoas que se ancoram em sexo e relacionamentos para tapar um vazio já seja um tema batido em filmes e séries, “Flebag” trás algo original pela maneira caricata como apresenta seus personagens e satiriza os rituais de convivência humana.

            O grande charme da série está no senso de humor das constantes observações que a protagonista faz ao falar diretamente com a câmera. Com o passar dos episódios essas mediações ficam cada vez mais objetivas e se reduzem a olhares e expressões cumplices que divertem o expectador junto com a personagem. Criamos intimidade por uma pessoa divertida, maliciosa e imprudente.

Através de diálogos e breves flashbacks, conhecemos o passado as e as motivações da protagonista, que contextualizam a inconsequência de suas atitudes. Ainda que discordemos de determinadas ações, a sua personalidade singular e carismática, puxa a nossa atenção para maneira como lida com as provocações ao seu redor.

Não se pode negar o peso da família em sua vida, que é por onde o roteiro toma forma. Em todos os episódios existe uma participação relevante dos membros que a compõem, onde encontros são marcados por diálogos passivo agressivos e jogos poder disfarçados de comentários casuais.

 As atuações não ficam para trás em qualidade, todos conseguem ser engraçados e comoventes na forma de se apresentarem como características levadas ao extremo, temos aqui: a controladora (irmã), a sonsa (madrasta), o omisso (pai) e a pervertida (protagonista) que é a única pessoa “real” diante do festival de máscaras sociais que a série ironiza.

Fleabag é uma comédia satírica, com densidade emocional, e que trás uma realidade: a dificuldade de ser verdadeiro com os outros e consigo mesmo.


The End of the F***ing World

 


Dois adolescentes com questões emocionais se identificam por suas diferenças e pela forma como não se encaixam na “normalidade”. James, um garoto apático, calculista, que se acha mais diferente do que realmente é. E Aylissa, uma garota temperamental, afrontosa que possui uma profunda melancolia escondida em sua reatividade. A relação deles é interessante de acompanhar, já que vamos conhecendo cada personagem a medida que eles se aproximam.

A narrativa mental dos dois protagonistas alterna com os diálogos sarcásticos de maneira fluida, expondo a profundidade de James e Aylissa independente do que é dito por eles.

Essa premissa básica é apresentada em 8 episódios de 20 minutos onde a rapidez é intensificada pela edição acelerada e pela montagem com cortes abruptos que, ora reforça o que está sendo dito, ora contradiz, estabelecendo um clima tragicômico nas situações que cercam a dupla.

Esse estilo confere dinamismo à trama e combina com o frenesi da adolescência, nos deixando dispostos a avançar sempre ao episódio seguinte.

The End of the f*** World é bem humorada, intensa sem perder objetividade e muito mais do que aparenta.

Dark



Criada por Baran Bo Odar, e roteirizada por Jantje Friese, a séria se passa em Winden, uma pequena cidade industrial da Alemanha. Nos primeiros episódios somos apresentados a uma gama de personagens com uma bagagem de perdas e desencontros, e com uma premissa de desaparecimentos misteriosos. No entanto, a série vai muito além do toque sobrenatural que esses sumiços sugerem.

Dark chamou atenção, principalmente pelo roteiro enigmático com questões filosóficas que sustentam uma ficção científica complexa. Debates existencialistas acerca do tempo, da existência concreta de passado, presente e futuro e da coexistência entre eles, são apresentados, não só nas falas dos personagens, mas nos rumos que a história toma.

Com o desenvolvimento da trama o espectador é introduzido em uma dinâmica da qual não estamos acostumados, mas que sustenta o nosso interesse por instigar a curiosidade e deixar sempre uma ponta do fio de Ariadne mais adiante.

Estou Pensando em Acabar com Tudo

  DESAFIANDO A NECESSIDADE DE “ENTENDER TUDO” Charlie Kaufman que já havia se mostrado eficiente para criar uma melancolia não justificada...