segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Fleabag

O FESTIVAL DAS MÁSCARAS

A vida comum de uma mulher que tenta fugir das próprias dores com muito humor e muito sexo pode ser interessante de acompanhar quando escrita pela  Phoebe Waller-Bridge (atriz principal), e dirigida por Harry Bradbeer. “Fleabag” retrata as vivências cotidianas de uma mulher sem nome, e apimenta a trama com personagens excêntricos e cenas que vão do cômico ao desconfortável.

            Ainda que pessoas que se ancoram em sexo e relacionamentos para tapar um vazio já seja um tema batido em filmes e séries, “Flebag” trás algo original pela maneira caricata como apresenta seus personagens e satiriza os rituais de convivência humana.

            O grande charme da série está no senso de humor das constantes observações que a protagonista faz ao falar diretamente com a câmera. Com o passar dos episódios essas mediações ficam cada vez mais objetivas e se reduzem a olhares e expressões cumplices que divertem o expectador junto com a personagem. Criamos intimidade por uma pessoa divertida, maliciosa e imprudente.

Através de diálogos e breves flashbacks, conhecemos o passado as e as motivações da protagonista, que contextualizam a inconsequência de suas atitudes. Ainda que discordemos de determinadas ações, a sua personalidade singular e carismática, puxa a nossa atenção para maneira como lida com as provocações ao seu redor.

Não se pode negar o peso da família em sua vida, que é por onde o roteiro toma forma. Em todos os episódios existe uma participação relevante dos membros que a compõem, onde encontros são marcados por diálogos passivo agressivos e jogos poder disfarçados de comentários casuais.

 As atuações não ficam para trás em qualidade, todos conseguem ser engraçados e comoventes na forma de se apresentarem como características levadas ao extremo, temos aqui: a controladora (irmã), a sonsa (madrasta), o omisso (pai) e a pervertida (protagonista) que é a única pessoa “real” diante do festival de máscaras sociais que a série ironiza.

Fleabag é uma comédia satírica, com densidade emocional, e que trás uma realidade: a dificuldade de ser verdadeiro com os outros e consigo mesmo.


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