quarta-feira, 11 de março de 2020

HER / ELA


(2014)

A REALIDADE DOS SENTIMENTOS

          
          Em um futuro aparentemente não tão distante, o longa dirigido e roteirizado por Spike Jonze, nos apresenta Theodore (Joaquim Phoenix) um escritor tímido, sensível que está enfrentando um divórcio demorado. Ao surgir um Sistema Operacional com inteligência artificial, Theodore passa a desenvolver uma relação cada vez mais íntima com essa companhia virtual, chegando a se questionar acerca da natureza dos seus sentimentos da relação que tem consigo e com as pessoas.
Jonze pretendia fazer um filme sobre amor em que a tecnologia é apenas parte dessa história. Ele reforça que o filme fala do nosso desejo e necessidade de conexão. Isso explica a maneira que “Her” se utiliza da tecnologia para apontar o que existe de mais humano nas pessoas.
Os personagens apresentam uma humanidade tangível e a sensibilidade dos diálogos não é melodramática. O filme mostra pessoas atentas a detalhes, como a capacidade de se modificar com as experiências, o desejo de aprender, questionamentos existenciais sobre o que é ter sentimentos e até que ponto isso nos torna real.
O elenco não deixa a desejar. Joaquim Phoenix, diferente da interpretação enérgica que o levou ao Oscar em “Coringa”, brilha na execução de um personagem delicado e introspectivo. Com andar cabisbaixo, sorriso tímido e jeito retraído, Phoenix dá vida um homem que busca enfrentar a própria solidão e se conectar a algo.
Ao seu lado, Scarlett Johanson não fica para trás na representação do Sistema Operacional Samantha. Vale ressaltar a oportunidade desse papel para evidenciar a sua atuação, ao invés de sua aparência que tem rendido tantos trabalhos voltados a explorar sua sensualidade. Aqui ela realiza um excelente trabalho de voz e dá vida a uma personagem carismática que se questiona acerca de seu próprio funcionamento e da natureza de suas emoções. 
A construção de universo futurista é bastante autoral. A tecnologia compõe o cenário de maneira contextualizada e suficientemente ligada ao presente. A beleza do filme é realçada pela fotografia nítida e levemente saturada, assim como a trilha sonora minimalista que marca os momentos de queda e ascensão do protagonista.
“Her” é um filme artístico, sensível, que especula sobre a natureza dos relacionamentos humanos e nos propõe a refletir junto com seus personagens.

Um comentário:

  1. Muito obrigada por essa crítica maravilhosamente bem escrita! Esse filme com toda certeza conquistou seu lugar entre os meus preferidos. Uma obra prima que me pegou pela mão e me levou em uma viagem belíssima para dentro dos meus sentimentos, a bordo das reflexões mais profundas sobre os relacionamentos e a natureza humana. E de brinde a vista da janela é de uma ternura e beleza aconchegante! Com isso quero dizer que as cores, toda a atmosfera do filme me trouxe uma sensação de proximidade muito agradável.

    Eu fiquei me perguntando sobre o nome do filme. Meditando sobre o que essa obra me fez sentir, quando penso no título penso imediatamente “Ela: a solidão” que, para mim ficou marcante como tema principal do longa.

    Muito obrigada por esse texto! Amei as informações e a forma linda que as apresentou. Eu sou sua fã de todo meu coração. Grata por partilhar desse olhar ÚNICO sobre a sétima arte que você tem.

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