terça-feira, 24 de março de 2020

O POÇO/ EL HOYO


(2019)

UM FILME PRETENSIOSO

            O primeiro longa dirigido por Galder Gaztelu–Urrutia, acompanha a vivência sombria de um homem em uma espécie de presídio vertical onde por meio de um mecanismo rotativo, os de cima se alimentam melhor do que os de baixo. Incomodado com essa realidade, ele tenta fazer algo para modificar as circunstâncias.
            “O poço” versa sobre conceitos como: os privilégios de quem está acima em detrimento dos que estão abaixo, a perda da humanidade diante de situações limite, e digressões acerca da existência de Deus. Ele possui uma premissa muito interessante usando como característica central o gesto de se alimentar e até onde o ser humano pode ir para garantir a sua sobrevivência. Os personagens transitam nos diferentes níveis da prisão, oras privilegiados, oras desfavorecidos,  o que estabelece o comentário social do filme, já que a desigualdade, a luta pela sobrevivência e a falta do olhar ao próximo são temas constantemente presentes na trama.
Apesar da quantidade de conceitos levantados, o filme não consegue aprofunda-los. O longa aborda assuntos abrangentes, onde nem sempre a conexão entre eles se dá de forma natural. Questões acerca da natureza da solidariedade e o uso de um símbolo como uma mensagem de esperança, tal qual acontecem nas religiões são apresentados sem suficiente desenvolvimento. Da mesma forma, os personagens buscam manifestar um mistério para a história por meio de diálogos enigmáticos que fazem conexões metafóricas com ditos religiosos e frases faladas por outros personagens, contudo, o efeito é superficial, já que a rapidez com que cada personagem aparece, não captura o espectador o suficiente, servindo apenas para impulsionar a trama adiante.
O roteiro apresenta situações intrigantes já que vamos descobrindo o funcionamento das coisas junto com o protagonista. Inclusive, o Iván Massagué (Goreng) está muito bem no filme. Ele vive um homem justo que é atravessado pelas cruéis circunstâncias e forçado a se modificar.
“O poço” é um filme que levanta conceitos existenciais e sociais interessantes, mas deixa a desejar em profundidade com o volume de temas que aborda.

Um comentário:

Estou Pensando em Acabar com Tudo

  DESAFIANDO A NECESSIDADE DE “ENTENDER TUDO” Charlie Kaufman que já havia se mostrado eficiente para criar uma melancolia não justificada...